Durante a Guerra Fria, os Estados Unidos iniciaram o desenvolvimento de uma forma de comunicação que não pudesse ser interrompida caso parte das instalações militares do país fosse atacada. Portanto, se levarmos em conta o fato de que a descentralização está no cerne da estrutura da internet, fica difícil considerar essas especulações.
Porém, depois do aparecimento de projetos secretos como o PRISM, o nível de desconfiança sobre essas questões aumentou demais e, a cada dia, novos rumores chegam à internet. Mas, afinal, existe algo parecido com um “botão” para desligar a internet? É possível interromper a internet no mundo todo?
O caso dos servidores-raízes
Como sabemos, toda máquina conectada à internet possui um endereço IP atribuído a ela, uma espécie de identificador que possibilita a comunicação. E para que ninguém tenha que decorar um monte de números estranhos, existem servidores de nomes (DNS) que atribuem endereços mais legíveis a esses IPs. Graças a esses servidores você pode digitar a URL “google.com” em um navegador web, em vez de “74.125.234.70”.
Esses servidores são parte crucial do bom funcionamento da web e, portanto, derrubá-los traria grandes danos à World Wide Web. Porém, ao contrário das muitas mensagens que circulam pela internet, esses servidores não formam o temido “botão desligar” da rede.
Há quem diga que todos os servidores-raízes da internet ficam em solo norte-americano, mas, como podemos ver no mapa abaixo, fornecido pelo root-servers.org, a informação é falsa. Há servidores como esses espalhados pelo mundo todo:
Mapa de servidores-raízes espalhados pelo mundo (Fonte da imagem: Divulgação/Root-Servers)
Internet pode ser quebrada, mas não interrompida
Além disso, o próprio pai da web, Tim Berners-Lee, nega a possibilidade de que a rede possa ser desligada. “Da forma como é projetada, a internet é bastante descentralizada. Hoje, como países se conectam uns com os outros de maneiras muito distintas, não existe um botão de desligar, ou seja, não há um local central onde você possa desligá-la”, afirmou o inventor em entrevista para o site Mirror.
Quem confirma a informação é Jim Cowie, co-fundador da Renesys, uma empresa de inteligência voltada para a internet. Em entrevista para a CNN, Cowie afirmou que a internet pode ser “quebrada”, mas não desligada: “A parte mais divertida da internet é que se você separá-la ao meio, as duas partes funcionarão como internets separadas ”.
Os 7 guardiões da internet
Tempos atrás, uma notícia que parecia ter saído de um romance de Dan Brown fez sucesso na internet. Segundo matéria publicada pela PopSci, “chaves” da internet foram distribuídas para 7 pessoas anônimas ao redor do globo. Assim, em caso de uma catástrofe que prejudique a World Wide Web globalmente, esses “guardiões” podem se reunir e ajudar a restabelecer a ordem virtual.
A medida foi definida pela Internet Corporation for Assigned Names and Numbers (ICANN), uma organização sem fins lucrativos e que tem acesso a um sistema de segurança destinado a proteger os usuários de fraudes e ataques cibernéticos.
Foto dos smart cards distribuídos pela ICANN (Fonte da imagem: Reprodução/PopSci)
Parte desse esquema de segurança é constituída pelo Domain Name System Security (DNSSEC), um protocolo de segurança que garante que os websites estão registrados e autenticados, assegurando que você chegue ao site correto quando acessa uma URL, e não a uma página similar e repleta de scripts maliciosos.
Os principais servidores do planeta fazem parte do DNSSEC e, durante um ataque muito grande, o serviço pode interromper a conexão entre esses servidores para protegê-los e conter a ameaça. Quando isso acontecer, as sete pessoas escolhidas pelo projeto são convocadas para reiniciar o sistema e garantir que tudo volte ao normal.
Por mais romântica que pareça a ideia, esses guardiões não receberam uma chave propriamente dita. Na verdade, o que eles agora protegem são smart cards com trechos de um código necessário para a reinicialização. E para que esse código seja reconstruído, é preciso que pelo menos cinco das sete pessoas se reúnam em uma base norte-americana. Os portadores dos cartões estão espalhados por países como Grã-Bretanha, Estados Unidos, Burkina Faso, Trinidad e Tobago, Canadá, China e República Tcheca.
Mas e se…
Outro ponto a ser levado em conta é que a internet é algo muito maior do que uma série de websites. Existem servidores de email, de chats, de transferências de arquivos e de muitos outros serviços que não são tão aparentes aos olhos da maioria. Derrubar os serviços de DNS, como muitos temem, poderia prejudicar a comunicação, tornando-a mais lenta por um determinado período, mas não a interromperia.
Segundo Tim Berners-Lee, a internet só poderia ser parada se os líderes de todas as nações do mundo se reunissem e decidissem reestruturar a internet, transformando-a em uma rede centralizada. E se um dia isso for considerado pelos governos, o inventor da web considera muito importante que todos se posicionem contra.
Tim Berners-Lee afirma que a internet não pode ser desligada (Fonte da imagem: Reprodução/Mirror)
E não adianta alegar que Berners-Lee é um agente do sistema. Durante a entrevista para o Mirror, o inventor brincou ao ser questionado sobre a possibilidade de fazer parte de uma grande conspiração: “Agora que você sabe disso, eu vou ter que matá-lo”. E complementou: “Eu implementei filtros que me permitem investigar cada palavrinha que vocês dizem uns aos outros. Vocês não percebem, mas, quando vocês conversam com alguém na internet, apesar de não parecer, suas palavras estão sendo modificadas para aquelas que eu quero que sejam ditas. Eu vou tomar o poder do mundo. Mas, tirando isso, o resto continuará exatamente igual”.
Pelo visto, além da internet, outra coisa que não pode ser parada é o bom humor de Berners-Lee.