O TI Oprimido – Desvalorização do Profissional

Qual é a causa da subvalorização do profissional de TI? Será que o mercado simplesmente resolveu escolher esse setor para crucificar ou existe algum estranho caroço nesse angu?

Imagem via Shutterstock

Desde já, informo: teremos problemas com esse artigo. Algumas pessoas concordarão, mas outras – possivelmente os extremos sofredores – discordarão tão veementemente que pensarão em me atirar pedras na rua.

Conversava eu recentemente com um empresário muito competente na área de TI quando saiu o seguinte assunto: a desvalorização do profissional dessa área.

Perguntei em que consistia, exatamente, essa desvalorização, e ele me disse que muitas empresas propõem vagas requisitando uma grande gama de habilidades enquanto oferecem salários muito baixos, incompatíveis com as competências solicitadas.

Treinado que sou para ser um interlocutor insuportável, comecei a pensar como aquela poderia ser uma leitura incompleta da realidade. Eu conseguiria contra-argumentar se encontrasse duas situações: (1) profissionais de TI bem valorizados ou (2) profissionais subvalorizados em diversas áreas, mostrando que não se trata de uma perseguição aos nerds, mas de uma situação de mercado comum a muitos setores.

Obs.: Pronto, começou. Acabo de perder um monte de leitores com esse nerds. Perco o restante até o fim do texto, prometo…

Pois eu encontrei ambas as situações. E elas têm tudo a ver com um erro estratégico muito frequente em nossas vidas: querer obter sem previamente prover.

Quanto à situação 1, lembrei-me de uma empresa que possui, entre seus profissionais, um estagiário que ganha 4 mil reais. A informação é quente, pois eu tenho um insiderna empresa com o qual troco informações.

Obs.: Ao meu patrão querido na Falcon Tecnologia informo que, sim, eu entrego alguns de nossos segredos para obter outros. Nada que nos comprometa, fique tranquilo. Está tudo sob controle.

Na empresa em questão – bem como onde eu trabalho – há ampla utilização de uma filosofia cada vez mais habitual nos dias de hoje: a meritocracia. De acordo com essa prática, não vale mais quem tem um sobrenome bonito, um curso superior completo ou está há mais tempo na empresa. Vale mais quem vale mais.

É o caso desse estagiário premium platinum. A empresa viu muito talento nele e decidiu pagar-lhe os 4 mil. Mas ela viu muito talento nele depois de tê-lo contratado por míseros 400 reais…

Existe ainda o caso de uma outra empresa que merece nossa atenção. Nela eu também possuo um insider (essa vida de articulista espião) e ele não é apenas meu informante, mas o próprio cara que ganha bem – e ainda desfruta de alguma mamata. Certo dia, eu queria combinar de conversar com ele e perguntei se precisava ser após o expediente. Ele me disse que não, que simplesmente sairia do trabalho no meio da tarde e se encontraria comigo.

Obs.: Se o Amplitudo já estivesse no ar, eu diria que a situação acima é o retrato exato da Única Condição e você compreenderia perfeitamente. Embora isso, por enquanto, não seja possível, ao menos você já pode se cadastrar para ser avisado do lançamento clicando aqui.

Voltando ao assunto (depois da desavergonhada autopromoção), por nada no mundo eu revelaria a identidade dessa última empresa, até porque poderia comprometer o cotidiano – e a mamata – do meu insider. Um bom espião precisa proteger suas fontes. Mas sabe por que a citei em especial? Porque já ouvi casos de pessoas se candidatando a vagas nessa corporação com a mesma reclamação tema de nosso artigo: muita exigência e pouca remuneração.

E posso dizer que concordo totalmente, pois o tal insider, quando começou, também era um escravo tinha que se dedicar bastante em relação ao que recebia.

Porém, a vida profissional de nosso colega melhorou (ainda estamos no contra-argumento 1, para quem já se perdeu), mostrando que a mesma empresa que exige muito e paga pouco é capaz de, após algum tempo, exigir menos e pagar mais. Não é à toa que paciência e persistência rimam.

Isso nos leva ao (bem mais rápido) contra-argumento 2. Se você reparar em outras áreas diversas de TI, verá ocorrer o mesmo em praticamente todas: o começo é duro e somente através do esforço e do trabalho melhoram-se as condições.

Basta pensar que, enquanto existe aquele seu amigo José Arruela da companhia de teatro que não tem nem onde cair morto, também existe um Tom Hanks – que, certamente, tem onde cair tanto morto quanto vivo – e várias vezes – além de não ter se tornado quem é hoje em dia logo ao realizar seu primeiro filme.

A conclusão dessa história é a seguinte. Você não deve bancar o bobo e fazer carreira em uma empresa que notoriamente não valoriza ninguém, nem financeiramente, nem de qualquer outro jeito. Mas também não pode esperar, antes de demonstrar qualquer competência na prática, que a empresa lhe concederá um salário astronômico e admiráveis condições de trabalho. A coisa simplesmente não funciona assim, e não é só em TI, mas em todos os setores.

Parece que o negócio é mesmo arregaçar as mangas. Minha opinião? Em vez de reclamar da situação, o segredo está em mostrar ao seu empregador por que ele deveria melhorar as suas condições de trabalho.

Não é pedir. É mostrar.

Pense nisso.

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